Se algum dia eu me tornar refém, por favor, não comuniquem a imprensa!
Está com certeza irá sobrevoar o local de meu cárcere ansiosa pelo momento derradeiro, o pico de audiência.
Se por acaso quiserem falar com meu algóz, proíbam de qualquer forma. Será para transformá-lo em uma “vitima do sistema”, um pobre infeliz que escolheu por caminhos incertos e agora se vê acuado, vitima das circunstâncias... blá blá blá...
Quanto a mim? Serei apenas um detalhe, um personagem menor e, para alegria dos urubus do microfone, morrerei de maneira trágica ao final de tudo.
O bandido será o privilegiado espectador deste Big Brother macabro, assistirá a cada ação policial, saberá o que pensam população, governantes... detalhes de sua mente doentia serão explicados por especialistas...
Pela TV, ao lado de meu sequestrador, eu vejo alguém falar que o meu destino deve ser a morte, uma série de reportagens antigas mostram isso com clareza... agora já sei que se não morrer na mão do bandido, serei morto por uma ação desastrosa da polícia.
Lá pelas tantas as TVs devem parar a sua programação de maneira brusca, o público prende a respiração... a voz radiante do repórter parece narrar uma final de campeonato.
Meu corpo não vai ser respeitado, alguém com uma curiosidade mórbida deve ter a necessidade de ver detalhadamente o buraco da bala na minha cabeça.
“Somente nós temos a imagem nítida do ferimento.” diz o ancora sensacionalista... me torno um troféu pendurado em sua parede.
Capas de jornais, revistas com a tiragem duplicada, blocos e mais blocos de um fantástico show da morte.
No meu tumulo, lágrimas se fundirão a alegria dos que conseguem uma exclusiva. Uma faixa numa coroa de flores deve agradecer pelos altos índices de audiência.
Isso tudo, e nada mais... continue agora com nossa programação normal.
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Um comentário:
caraca amei isso
a mais pura verdade
virei fã sua
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