quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Outro sentido da vida

Li uma frase sobre a vida escrita pelo mestre Chaplin, esse texto me inspirou a fazer uma Crônica inteira, um plágio descarado com cara de homenagem:

Sou contra esta história de morte, isso mesmo, se tem uma coisa que sou totalmente contrário é o fato de que temos que morrer um dia. Pra mim a vida deveria ser diferente, ao invés de nascer, crescer, formar uma família, envelhecer e morrer, a ordem deveria ser inversa. Excluindo a morte é claro!

Pra começar nós não deveríamos nascer e sim surgir, aparecer de repente sem ninguém saber como e nem de onde. Deveria ser algo tão rápido como a morte, de repente você olha pro horizonte e lá vem surgindo alguém, um velhinho de uns 80 ou 90 anos, com toda a sabedoria e experiência de uma vida inteira, ranheta, encrenqueiro, sem maiores preocupações. Apenas um velhinho!

Pois bem, este velhinho deveria ser acolhido por uma família, ser chamado de pai, vô, receber carinho e respeito. O velhinho vai ensinar, dividir tudo aquilo que ele conhece com aqueles que já estão começando a ficar com os cabelos pretos. Ah não pode faltar uma companheira, isso já daria uma tranqüilidade a mais ao homem, a certeza de não ficar só! Uma velhinha bem que podia vir acompanhada do velhinho, não?

Com o tempo as pessoas iam ficando jovens, aquele velhinho agora é um senhor de uns 65 anos. Hora de assumir responsabilidades, hora de procurar um emprego. Procurar não, simplesmente ir trabalhar, instruir aqueles que estão a mais tempo na empresa o seu oficio, passar a sua experiência para todos. Depois de um dia de trabalho nada como voltar para a casa, aproveitar a companhia dos netos enquanto há tempo, por que daqui a pouco não vai haver mais netos, só seus filhos com os dilemas da mocidade, com a rebeldia dos jovens.

A vida deveria seguir o seu rumo normal então, as pessoas “enjovencendo”, os amigos se aproximando cada vez mais, imagine a alegria de ver que a cada dia mais pessoas se achegam à você, pois agora os amigos não desaparecem, mas sim aparecem em sua vida.

Mais ou menos com 35 anos, você e sua esposa passam pela melhor fase do casamento, vocês já sabem como foi a vida, sabem que souberam criar seus filhos e que tiveram netos, se lembram com saudades dos netos e até quem sabe dos bisnetos. Vivem um período de redescoberta do amor, dos prazeres, e vão redescobrindo mais e mais, dia após dia. Continuam sonhadores, mas agora os sonhos se chamam lembranças. Tratam seus filhos com muito amor e carinho, aproveitam a cada dia a infância deles com a esperança de serem tratados com o mesmo carinho no dia em que chegarem nessa idade, afinal todos seremos criança um dia.

O tempo passa e os filhos não existem mais, agora é só você e sua esposa, que maravilha ver como o tempo fez bem a vocês, o brilho voltou para o olhar, a pele se alisou, os músculos enrijeceram. Você se olha no espelho e vê que até que ficou charmoso com tudo isso de cabelo, cada dia mais você vai ficando parecido com seu saudoso filho. Agora a melhor parte, vocês vão começar a vender tudo o que tem para preparar uma grande festa de casamento, antes é claro, um mês de descanso em uma viajem de lua de mel. Depois da festa do casamento cada um vai para casa de seus pais, voltam a ficar noivos, começam a namorar até cada um ir pro seu lado, o melhor desta parte é que um não vai sentir falta do outro, isso poupa algumas lágrimas e você ganha algumas noites de sono.

Que maravilha você poder sair com seus amigos, comer qualquer coisa, beber de tudo, fumar, jogar, passar noites em claro com a certeza de que tudo isso não vai te fazer mal no futuro, afinal de contas você já viveu tudo o que tinha que viver. É nesta época também que você vai esquecendo de tudo, cada vez mais rápido, esquece inclusive que você já teve a idade de seus pais. Você começa a fazer aquilo que mais criticavam em seus filhos, saem sem dizer que hora voltam, brigam por besteiras, respondem mal e agem com rebeldia. Mas tudo bem, é hora de viver de forma intensa, afinal o principio está chegando.

Você deixa o seu emprego de anos e tem que ir para a escola, na escola você vai desaprendendo de tudo, desaprendendo até não saber de mais nada. E como é difícil desaprender a ler e escrever. Quando você chega neste ponto é hora de ficar em casa o tempo todo, passar os dias assistindo desenhos animados na televisão, brincando e andando atrás de sua mãe. De vez em quando seu pai te leva pro trabalho, onde fica admirando um retrato enorme de você velhinho na sala dele, sala que um dia foi sua.

Com o passar do tempo você fica cada vez mais dependente de seus pais. A cada dia uma nova surpresa, primeiro você começa a perder os dentes, depois o cabelo, mais um pouco de tempo e você só vai conseguir andar segurando nas paredes ou com a ajuda do andador, até que chega um dia em que você vai ficar o tempo todo deitado, sem poder nem ir ao banheiro, fazendo suas necessidades na fralda. Nessa fase da vida só resta a você pensar no que foi a sua vida, às vezes te dá vontade de chorar, e você chora mesmo, sem se importar que é de madrugada e que daqui a pouco seu pai vai ter que ir trabalhar, nesta hora só colo de mãe pra te acalmar. Os dias vão passando e você vai se esquecendo de tudo, até mesmo de como formar idéias. Pode crer que daqui a pouco você vai voltar pra dentro de sua mãe, e quando isso acontecer falta pouco, só mais nove meses e tudo vai acabar, de maneira prazerosa com um grande orgasmo!

Pronto acabou tudo e você nem viu a vida passar!!!
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2 comentários:

Aline Cristina. disse...

Ótimo post e me fez pensar muito...

Beijos !!!

Anônimo disse...

Benjamin Button ! =)