O Telefonema

Escritório, dia quente, fim da tarde, saco cheio...
Toca o telefone:
- Alo.
- Alo.
- Quem fala?
- Sou eu!
- Eu quem?
- Você!
- Como assim eu?
- Eu sou você!
- Como assim você sou eu?
- Eu sou você! Mas não você agora, eu sou você no futuro!
- ...
- Eu sei que é complicado de explicar, mas você tem que acreditar em mim. Ou melhor você tem que acreditar em você, que sou eu!
- Mas como...
- Olha só, não me pergunta como, ou melhor, não se pergunta como. Eu só to te ligando pra me ajudar.
- Mas espera um pouco, eu quero entender. Me ajudar por que? O que eu tenho?
- O que você tem não, o que você não tem?
- E o que eu não tenho?
- Namorada, noiva, mulher... nem uma das três você tem, ou melhor eu... nós!
- Mas no futuro eu também não tenho ninguém?
- Não, e sabe por que? Porque você não quis, e já que você não quis, eu não tenho.
- Como assim eu não quis?
- Olha do teu lado.
- Olhei.
- Tá vendo uma ruivinha bonitinha que fica na recepção?
- Sim.
- Bonita né?
- Muito!
- Então, só depois de um bom tempo é que eu descobri que ela era apaixonada por mim, ou melhor, por você. Mas quando eu descobri, ela já estava com outro. Não dava pra fazer mais nada. É por isso que eu to te ligando, você tá em tempo de fazer alguma coisa, eu não!
- Sério?
- Sério! Eu, ou melhor, você nunca prestou atenção nela. O que ela mais queria era poder ter a oportunidade de te conhecer melhor, quem sabe um almoço. Mas a gente não fez nada!
- Poxa, enquanto você falava comigo ela olhou pra mim e sorriu...
- Cara, faz um favor pra nós dois, vai lá agora mesmo e convida essa mulher pra almoçar. Se ela não aceitar insisti um pouco que vai valer a pena, vai por mim!
- Ta bom, espera na linha que eu vou falar com ela e já volto.
- ...
- Voltei!
- E ai?
- Vamos almoçar hoje mesmo. Ela no começo ficou meio sem graça e disse que tava de olho em um outro cara aqui do escritório, mas eu insisti como você me falou e ela acabou aceitando. Senti que vai dar certo isso.
- Maravilha cara! Não vejo a hora de meu presente, que é o seu futuro, mudar!
- Valeu mesmo!
- Agora vai fundo Renato, e a partir de hoje faça um favor pra nós dois, começa a acreditar mais em si mesmo. Não é toda hora que o seu futuro pode ficar te dando dicas. Acho que depois de hoje nunca mais a gente vai conseguir se falar desse jeito.
- Olha, valeu mesmo cara. Mas eu não sou o Renato!
- Você não é o Renato? Quem é que ta falando?
- O Rodrigo!
- Rodrigo? E cadê o Renato?
- Tá aqui na mesa ao lado, jogando paciência.
- Merda.
- Que foi?
- O Rodrigo! Você... casou com a ruivinha!
- Sério?
- Sim, e eu sempre me perguntei como ela foi casar com o Rodrigo se ela gostava de mim primeiro?
- Poxa cara, sinto muito, mas valeu!
- Cara... por favor, não vai almoçar com a ruivinha e me passa pro Renato.
- Desculpa, mas agora é tarde! Obrigado!
Rodrigo desligou o telefone rapidamente, pois já estava próximo da hora do almoço, pegou o seu casaco e saiu correndo pra se encontrar com a ruivinha. Antes passou pela mesa de Renato, olhou bem na cara dele e com a mão em seu ombro disse: Foi mal cara!
Renato não entendeu nada e ficou observando Rodrigo dando um beijo apaixonado na recepcionista, que ficou tão vermelha quanto seus cabelos ruivos.
“Que cara sortudo esse Rodrigo, espero no futuro ter essa sorte!”, pensou enquanto iniciava uma nova partida de paciência.

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